'Confiança com a Venezuela foi quebrada', diz Amorim sobre negativa do Brasil a apoiar entrada do país no Brics

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— Até a esquerda erra [ao comentar o assunto]. A questão com a Venezuela [no Brics] não tem a ver com democracia, tem a ver com quebra de confiança. A quebra de confiança foi uma coisa grave. Nos disseram uma coisa e não foi feita.

Amorim se refere à promessa do Palácio Miraflores de entregar as atas do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), emitidas na eleição presidencial de 28 de julho. No dia seguinte à eleição, o assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi pessoalmente ao palácio presidencial venezuelano, onde foi recebido por Maduro. Na reunião, o chefe de Estado garantiu a Amorim que seu governo apresentaria as atas eleitorais que, segundo ele, confirmariam sua segunda reeleição consecutiva. Mas as atas nunca apareceram.

— [A entrada da Venezuela ao Brics] Não é um problema do regime político, é uma questão de quebra de confiança. Nós agimos de boa-fé, mas com a Venezuela quebrou-se a confiança — frisa Amorim, que expressou o desejo do Brasil de “voltar a ter confiança" no país.

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Em Caracas, analistas consideraram a ida de Maduro a Kazan desastrosa. O venezuelano não foi autorizado a participar da foto oficial do evento, e todas as suas tentativas de colocar a Venezuela na lista de novos parceiros fracassaram. O papel do Brasil, asseguraram fontes da delegação brasileira, “foi essencial” na barreira imposta aos venezuelanos.

Em Brasília, afirmaram fontes do governo, Lula “não quer mais ouvir sobre Maduro e Venezuela, existe um esgotamento”. A partir de 10 de janeiro, dia em que o presidente venezuelano será empossado, o Brasil não reconhecerá mais Maduro como chefe de Estado do país, dizem as fontes, e a relação irá para o freezer. Não se fala em ruptura, mas sim em profundo esfriamento.

As tentativas do Brasil de que houvesse uma reação de Caracas foram várias, mas do outro lado houve sempre uma negativa. Enquanto a oposição venezuelana apresentava atas eleitorais que contam com o aval de especialistas eleitorais estrangeiros e até mesmo do Centro Carter, principal observador eleitoral do pleito, a ditadura venezuelana nunca mais falou no assunto. A promessa feita ao Brasil não foi cumprida, e o Brasil, a partir de determinado momento, deixou de falar em atas.

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Países como Rússia e China eram favoráveis à entrada da Venezuela ao grupo, mas, finalmente, respeitaram a posição brasileira, que considerou “inoportuna”, em palavras de Amorim, a incorporação dos venezuelanos.

Na quarta, a presidência russa do bloco conseguiu aprovar a entrada de 13 novos parceiros, que terão uma participação limitada e sem direito a voto. Segundo interlocutores da diplomacia brasileira, a lista é formada por Turquia, Indonésia, Bielorrússia, Cuba, Bolívia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria, Uganda e Argélia.

Nesta quinta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, referiu-se ao processo de ampliação do Brics na coletiva de encerramento do evento. O chefe de Estado anfitrião afirmou que o grupo adotará uma nova categoria, definida como "membros associados", e que os países a serem incorporados serão divulgados apenas após "um processo de consultas".